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FI n.º 54
Defendo, contudo, que os investigadores
devem dar aulas e que os docentes devem
fazer investigação, não sou adepto da
exclusividade. Na verdade, todos os investi-
gadores deviam ter algum contacto com
alunos, seja no primeiro, no segundo ou no
terceiro ciclo universitário, já que o ensino
não pode estar à margem da investigação.
Mas uma profissionalização da ciência
permitiria que os que se querem dedicar
principalmente à investigação, e demons-
trem capacidades para o fazer, possam
seguir esse caminho de forma mais
competitiva. Isso não é possível neste
momento, pois não existem mecanismos
nem carreiras estáveis de investigador.
Por outro lado, penso que nem todos os
docentes necessitam ter carreiras de investi-
gação de topo, pois podem ser excelentes
docentes, sem mais. O ensino é uma atividade
fundamental para que a própria ciência
progrida e vice-versa. A questão que se põe
aqui é quanto tempo um profissional dedica
ao ensino e quanto dedica à investigação,
diferenciando-se assim duas carreiras
paralelas possíveis.
FI
: O que proporia para esse efeito?
Claudio Sunkel
: A carreira docente está bem
definida, falta garantir carreiras de investiga-
ção sólidas. A única forma de fazer a profissi-
onalização da ciência é, em primeiro lugar,
criar instituições de investigação sólidas, com
financiamento plurianual e com um quadro
de investigadores. Essencialmente, é preciso
garantir mecanismos de financiamento estáveis,
a nível nacional, que garanta m o funciona-
mento regular de todo um sistema científico,
incluindo as instituições, as bolsas e os
projetos. Não é possível um sistema científico
sólido sem solidez nas políticas de financia-
mento em prazos temporais alargados.
“Uma mobilidade entre
instituições de investigação e,
também, destas para
as Universidades ou
para a Indústria”
Um modelo adotado em muitos países
passa pela criação de um “Instituto Nacional
de Investigação Científica”, com um quadro
de investigadores de carreira e um quadro
mais transitório. Esse organismo central
financia investigadores que ficam ligados a
instituições de investigação, quer dentro das
universidades, quer externas a elas, como os
centros de investigação. O quadro transitório
será uma fase inicial que permite contratos
por períodos fixos não renováveis, promoven-
do a mobilidade dos investigadores. Uma
mobilidade entre instituições de investigação
e, também, destas para as Universidades ou
para a Indústria. Na construção do quadro de
carreira, os investigadores de maior sucesso
teriam que provar a sua competência por
um certo período de tempo, acabando por
estabelecer um vínculo contratual mais
duradouro com o estado.
»
(cont.)