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FI n.º 54
FI
: Recentemente, afirmou que “Portugal
explodiu na produção científica”. No seu en-
tendimento, a que se ficou a dever este
boom
de produção?
Claudio Sunkel
: A estabilidade no financia-
mento entre 1986 e 2010 foi a principal razão.
Criaram-se Unidades e Institutos de Investi-
gação com alguma autonomia para definir
as suas estratégias e foi possível alguma
profissionalização dos investigadores com
dedicação a 100% à investigação.
A explosão de produtividade científica de
Portugal ganhou forte expressão no final dos
anos 90 e entrou em fase exponencial a
partir de 2000. O fenómeno está diretamente
relacionado com uma política contínua de
financiamento e de promoção da ciência,
iniciada em 1986 com o Programa Mobiliza-
dor de Ciência e Tecnologia. Outros
programas similares seguiram-se, de forma
quase ininterrupta, até 2010. Isto foi possível
porque houve, claramente, um pacto de
regime na área da ciência, iniciado com a
criação da Junta Nacional de Investigação
de Ciência e Tecnologia (JNICT) e continuado
pela entidade que a substituiu, a Fundação
para a Ciência e Tecnologia (FCT).
Na altura, nos anos 80, todos reconheciam
que Portugal estava demasiado atrasado no
desenvolvimento científico e que para ser
membro pleno da comunidade europeia
teria que haver um esforço gigantesco em
várias frentes. Era necessário promover a
formação graduada, principalmente douto-
ramentos, e organizar os docentes e investi-
gadores para impulsionar a investigação
nacional em todas as áreas, incluindo Ciências
Exatas, Saúde, Naturais, Engenharia, Huma-
nidades e Sociais.
Neste pacto de regime definiu-se um conjun-
to de prioridades e de metas a atingir num
período de 20 anos: a formação pós-gradua-
da (doutoramentos e pós-doutoramentos);
o financiamento de projetos; a criação e
autonomização das Unidades ou dos Centros
de Investigação; a Internacionalização dos
investigadores e da investigação portuguesa;
e o desenvolvimento de uma Cultura Cientí-
fica na população. Esta política manteve-se
praticamente constante até2011. Excetuam-se
pequenas oscilações, como 2004-2005, em
que houve alguma quebra no financiamento,
ou a redução do investimento do sector
privado em ciência e inovação de 2009 em
diante. Mas omais dramático é a redução
continuada e significativa, desde 2011, do
financiamentonos orçamentos deestado.
FI
: De que forma foi o
boom
na investigação
convertido em valor para a sociedade?
“O desenvolvimento e a
implantação de um verdadeiro
Sistema Nacional de Ciência e
Tecnologia (SNCT) foi em si
mesmo um enorme valor para
a sociedade portuguesa”
»
(cont.)