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FI n.º 54

“É preciso criar

instrumentos eficazes

que promovam a

interação entre o

SNCT e as PME”

A ausência de um impacto mais evidente e

generalizado da ciência na economia tem

sido apontado pelo governo e pela comissão

europeia como uma fraqueza no desenvol-

vimento da ciência em Portugal. Embora seja

uma observação correta, talvez extensível a

toda a europa, esta fraqueza decorre de

dois factos facilmente identificáveis. Primeiro,

o investimento no SNCT, embora relevante,

nunca chegou a atingir o nível crítico para

que a transferência de tecnologia e o desen-

volvimento da inovação dessem o salto

desejado. Em segundo lugar, não houve um

desenvolvimento paralelo do tecido empre-

sarial, particularmente das PME. Enquanto

o SNCT, as Universidades e, em grande parte,

o sector da saúde se modernizaram e inter-

nacionalizaram, o tecido empresarial portu-

guês não o fez. Em parte porque não foi capaz

de incorporar recursos humanos devidamente

qualificados e não aproveitou a ciência

portuguesa para resolver os problemas ou

para criar inovação e valor. Mas é preciso

ter em conta que estamos a falar de apenas

20 anos, e a evolução empresarial precisava

que primeiro ocorresse a evolução do tecido

científico e universitário nacional. Há exemplos

vários que mostram que as empresas come-

çam a responder, concretamente as PME,

que são a base do nosso tecido económico.

Mas é preciso criar instrumentos eficazes que

promovama interação entre o SNCT e as PME.

FI

: Na sua opinião, e beneficiando da sua

experiência e mundividência, como poderá

a investigação em Portugal compensar o

decréscimo de investimento do país em

investigação e desenvolvimento (I&D) entre

2009 e 2012?

“O financiamento

da ciência, em todos

os países desenvolvidos,

assenta essencialmente

em 3 pilares”

Claudio Sunkel

: Para mim, é absolutamente

clara a impossibilidade do SNCT se manter

em funcionamento com as reduções no

financiamento público e privado registadas

nos últimos anos. A redução do financiamento

público está a deixar as instituições desfalca-

das dos melhores cientistas. Para eles,

Portugal já não é um local atrativo para con-

tinuar o seu trabalho, principalmente quando

outros países, como a Suíça, a Alemanha, a

Noruega e a Dinamarca, precisam urgente-

mente de recursos humanos qualificados.

Estes países têm vindo a Portugal recrutá-los

de forma continuada.

A redução no número de bolsas de doutora-

mento e pós-doutoramento, iniciada em 2012

com efeito dramático em 2013, já se faz sentir

no número de alunos de doutoramento nas

universidades portuguesas. Em 2012-2013, o

número baixou 17%, quando comparado com

o período homólogo anterior. Prevê-se para

2013-2014 uma redução ainda maior, menos

40% de novos alunos. Isto está a minar a

confiança que se tinha vindo a desenvolver

entre os alunos de licenciatura e o SNCT. Cada

vez mais os jovens procuram uma carreira

científica no estrangeiro, pois não confiam

em Portugal.

»

(cont.)