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FI n.º 54
O financiamento da ciência, em todos os
países desenvolvidos, assenta essencialmente
em 3 pilares: o financiamento público base
que garante o funcionamento das institui-
ções, incluindo a contratação de uma parte
dos recursos humanos; o financiamento
público fundamental de projetos de ciência
que a indústria e os privados não financiam
e, por último, sobre esta construção sólida
assenta a investigação de colaboração com
empresas ou inserção de atividade empre-
sarial no tecido científico. Estes três pilares
são fundamentais para o SNCT desenvolver
a sua missão, que inclui: a formação
avançada, a produção do conhecimento
e a valorização desse conhecimento na
economia e no desenvolvimento social.
A ausência de um destes três pilares não é
compensada pelo aumento de umdos outros.
Por exemplo, se deixar de se financiar a
ciência fundamental, que só acontece com
fundos públicos, rapidamente seca a base de
criação de novas tecnologias e a própria
inovação ficará comprometida. Aumentar
de forma desmesurada o financiamento da
ciência aplicada não resolve o problema. Por
outro lado, estrangular a base de financia-
mento público das instituições faz com que
estas percam a capacidade de serem compe-
titivas em financiamentos internacionais,
como por exemplo europeus. Ao contrário
do que tem sido dito, usando como referência
os níveis de investimento público nacionais,
os cientistas portugueses conseguem finan-
ciamentos europeus acima da média dos
outros países.
FI
: Que recursos e ligações podem ser poten-
ciados pelos centros de conhecimento e
universidades para fazer face a cenários
menos prósperos, pegando, por exemplo, na
sua ideia de “traduzir conhecimento em
tecnologia e inovação”?
“Se as áreas de
desenvolvimento do SNCT
dependerem exclusivamente
do mercado muitas áreas
do saber desaparecerão”
Claudio Sunkel
: Será que dedicar todo o
SNCT à parceria com empresas é uma solução
para manter a ciência portuguesa? É essa a
sua pergunta? A minha resposta é claramente
não! Pôr os cientistas a responder única e
exclusivamente aos problemas que a indústria
coloca, transformá-los em meros prestadores
de serviços, contraria a liberdade intrínseca
e indispensável à atividade de investigação.
Esta liberdade é essencial para encontrar o
que se procura e, muito mais importante,
para se encontrar aquilo de que não se está
à procura.
“Só a partir do
inesperado nascem
as verdadeiras
descobertas”
»
(cont.)