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FI n.º 54
Claudio Sunkel
: O desenvolvimento e a
implantação de um verdadeiro Sistema Naci-
onal de Ciência e Tecnologia (SNCT) foi em
si mesmo um enorme valor para a sociedade
portuguesa, como um todo, e para muitos
setores empresariais, em particular. Mas foi-o
sobretudo para o sistema Universitário.
Permitiu desenvolver um sistema de ensino/
investigação com capacidade para formar
mais de 1500 doutorados por ano (dados de
2012) quando em finais dos anos 80 não
chegava, sequer, a 100. Os números atuais
são claros: em 2012 publicaram-se mais de
10,000 artigos científicos em revistas inter-
nacionais com arbitragem, os quais recebe-
ram quase 40,000 citações – uma forma
objetiva de medir o impacto internacional
da ciência portuguesa. Foi possível criar
instituições, Unidades de Investigação e
Laboratórios Associados que se internacio-
nalizaram rapidamente, passando a integrar
o universo internacional da ciência, dos
grandes laboratórios internacionais, das
grandes redes de investigação, dos grandes
projetos internacionais.
“Os nossos licenciados,
mestres, doutorados e
investigadores são facilmente
aceites nos melhores centros
de ciência do mundo,
alterando de forma dramática
a perceção de Portugal no mundo”
Este novo ambiente permitiu trazer regular-
mente a Portugal cientistas estrangeiros de
grande nível e permitiu, acima de tudo, fixar
em Portugal um número muito significativo
de investigadores estrangeiros, marca da
credibilidade que a ciência Portuguesa foi
conquistando. Os nossos licenciados, mestres,
doutorados e investigadores são facilmente
aceites nos melhores centros de ciência do
mundo, alterando de forma dramática a
perceção de Portugal no mundo.
A implementação de um SNCT permitiu, de
forma muito mais direta, desenvolver unida-
des de Transferência de Tecnologia, criar
empresas de base tecnológica e implementar
projetos de inovação. Este processo deu-se
por duas vias: pela disponibilização de recur-
sos humanos altamente especializados,
essenciais à investigação e ao desenvolvimen-
to dentro das empresas; e pela transferência
do conhecimento produzido nos centros de
investigação para o sector empresarial de
forma direta. Tudo isto tem um impacto
decisivo na criação de novas áreas de negó-
cios, assim como na transformação de
modelos de produção clássicos que estavam
em crise nos anos 90. São exemplos o que
se passou na indústria do calçado, da energia,
dos têxteis, e noutras áreas da indústria.
Mas há outros fenómenos não desprezíveis,
como o do bem-estar e da autodeterminação
das populações. A ciência e a formação
foram o motor que puxou toda a sociedade
para um nível de literacia que não se julgava
possível nos anos 80. E isto é essencial para
uma cidadania plena.
»
(cont.)